A Biojeca era o nome dado ao grupo da Bioquímica Médica, liderados pelos Professores Marcus Vale e Hélio Rola, e funcionava mais ou menos como uma imitação do nome dado ao Laboratório Biokaos, dirigido pelos Professores José Carlos da Costa Maia (orientador de Mestrado do Marcus Vale), Lélia Menucci e Antônio Gorgônio (Gogó), do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da USP em São Paulo. Nessa época, a Bioquímica Médica já utilizava doenças para o ensino de Bioquímica, o que de alguma forma não era prática comum no Curso de Medicina. Além disso, houve um início de mistura entre ciência e arte popular, através do uso de pinturas e da literatura de cordel para o ensino de Bioquímica. Essa iniciativa pode ser considerada como a semente responsável pelo surgimento da área de divulgação científica na UFC que redundará na Seara da Ciência, órgão de divulgação científica e tecnológica da UFC, hoje dirigida pelo professor Marcus Vale. Por outro lado, Professor Hélio Rola continua seu desenvolvimento como artista plástico. Vários livretos foram publicados, inclusive de autoria de alunos de graduação e professores. Destacou-se, na época, o então aluno e monitor da disciplina Carlos Alberto Bezerra (Beto), que, mais tarde, tornar-se-ia professor de Bioquímica do Departamento.
De 1960 até 1978: o início da Pós-Graduação em Farmacologia
Já em 1961, entra no Departamento o professor Francisco Hélio Rola que trabalhou inicialmente no antigo Instituto de Química e Tecnologia com o professor Mateus Ventura, posteriormente no Departamento de Bioquímica e, finalmente, retorna ao nosso Departamento até sua aposentadoria (atualmente, mesmo aposentado, o Professor Hélio Rola ainda contribui ativamente com o Curso de Pós-Graduação em Farmacologia através de sua produção científica e também artística, sendo pesquisador do CNPq). O professor Hélio foi o primeiro professor do nosso Departamento com o título de Doutor (1966).
José Maria Bulcão e Giselda Costa Lima entraram no Departamento em 1964 e 1966, respectivamente. Nessa década, alguns alunos da Faculdade de Medicina se dirigem para a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e iniciam a cultura daquela instituição em realizar os Cursos de Férias destinados a estudantes de graduação de outras instituições. Um desses estudantes foi aluno Luiz Capelo, futuro professor do Departamento. Em 1968, o professor Manassés Claudino Fonteles ingressa no Departamento na cadeira de Farmacologia que, nesta época, já contava com o professor Fahad Otoch, catedrático de Terapêutica Clínica e seu assistente, professor Hely Vieira da Cunha que haviam se transferido para a cadeira de Farmacologia. Manassés, recém-formado (1967), jovem e com entusiasmo, começa um processo de dinamização da cadeira (atualmente, professor Manassés exerce o cargo de Reitor da Universidade Mackenzie; ele também foi Reitor da Universidade Estadual do Ceará no período de 1996 a 2000).
No ano seguinte (1970), outro docente que entrou para o departamento e, de forma marcante, firmou sua presença entre nós, embora lamentavelmente de forma tão breve, foi o professor Luiz Recamonde Capelo . Jovem e entusiasmado médico recém-formado, com grande capacidade de comunicação com o alunato e adepto do método experimental de ensino, iniciou uma nova fase na cadeira de Fisiologia, interrompida bruscamente com sua morte inesperada em 1982. O setor de Fisiologia foi também reforçado com a entrada, em 1971, dos professores José Henrique Leal Cardoso e Antônio Benito Carneiro. Até esta data, um total de vinte professores compunha o Departamento, dos quais, dezenove eram médicos. O professor Benito foi o primeiro professor não-médico, uma vez que é graduado em medicina veterinária. Fato semelhante se repetiu em 1973 com a admissão do professor Francisco Átila de Lira Gondim(também veterinário) para a cadeira de Bioquímica Médica.
Ainda em 1973, o então Reitor da UFC, professor Walter Cantídio, dá início à implantação da reforma universitária, quando desaparecem os nomes Faculdade de Medicina, Faculdade de Farmácia e Faculdade de Odontologia e passam a vigorar os nomes Curso de Medicina, Curso de Farmácia e Curso de Odontologia, criando-se, assim, o Centro de Ciências da Saúde. Neste ano, finalmente, aparece o nome Departamento de Fisiologia e Farmacologiaque, além das disciplinas de Fisiologia e Farmacologia, comportava ainda as disciplinas de Biofísica Médica e Bioquímica Médica.
A reforma universitária previa ainda que disciplinas semelhantes ministradas em diferentes cursos de graduação fossem concentradas em um só curso. Dessa forma, os docentes responsáveis pelos distintos cursos de Fisiologia e Farmacologia Humanas, ofertadas nas antigas Faculdades de Farmácia e de Odontologia, foram transferidos para o recém-criado Departamento de Fisiologia e Farmacologia, que passou a centralizar todas as disciplinas relacionadas a essa área do conhecimento. Conseqüentemente, a Fisiologia foi enriquecida com a chegada dos professores Jorge Romcy, José Iran dos Santos e Francisca Heloísa Pinheiro Marques, enquanto a Farmacologia o foi com os professores Estevão Célio Moura e Glauce Socorro de Barros Viana, sendo que esta encontrava-se na Califórnia-EUA concluindo seu Doutorado, em 1974. Nessa mesma época, o professor Manassés encontrava-se na Geórgia-EUA, também concluindo o doutorado em 1974.
Um fato marcante e que deve ser mencionado com relação à formação da Pós-Graduação em Farmacologia na UFC é a interação com o Departamento de Química Orgânica da UFC.
Ainda no ano de 1974, ingressa na disciplina de Farmacologia o professor Krishnamurti de Morais Carvalho e, em 1976, são abertos concursos para as disciplinas de Biofísica e Bioquímica, sendo as vagas preenchidas respectivamente pelos professores Eduardo Augusto Torres da Silva e Marcus Raimundo Vale. Da interação entre o Professor Hélio Rola e Marcus Vale surge a Biojeca, em 1976. No ano seguinte, é a vez da Farmacologia, sendo a vaga preenchida pelo professor Manoel Odorico de Moraes Filho.
Neste período, o professor Henrique encontrava-se no Instituto de Biofísica da UFRJ, o professor Átila na UFMG e o professor Krishnamurti na USP, todos concluindo o curso de Mestrado. Então, como os professores Marcus Vale e Eduardo Torres já haviam ingressado no Departamento com o título de Mestre, assim como o professor Capelo já o era desde 1973, o Departamento passou a contar com três doutores (Hélio Rola, Manassés e Glauce) e três mestres (Capelo, Eduardo e Marcus), com a perspectiva de, em breve, contar com mais docentes titulados. Criou-se, então, o Curso de Especialização em Farmacologia, embrião do Mestrado em Farmacologia que viria a ser implantado em 1978.
Biojeca
A figura acima foi registrada em 1977 onde podem ser vistos alguns estudantes e os professores Marcus (de bigode e camisa quadriculada) e Hélio (à esquerda do Marcus). O monitor Carlos Alberto Bezerra também é visto nessa foto (à direita do Marcus), bem como Efímea Rola (no primeiro plano).
Na foto acima, outro momento da Biojeca. À extrema direita, vemos a estudante chamada “Balinha”, irmã do Professor Átila Gondim, também da disciplina de Bioquímica.
Grupo da Química Orgânica
As atividades de ensino e pesquisa em Química Orgânica na UFC, ainda muito incipientes no início da década de 60, eram o resultado de ações isoladas de um pequeno, mas seleto grupo de professores pertencentes à diversos grupos emergentes da Escola de Agronomia, Faculdade de Farmácia, Faculdade de Medicina e Escola de Engenharia. Em 1962 foi criado o Instituto de Química, permitindo uma maior interação e integração científica dos referidos pesquisadores, uma vez que integrando o quadro científico daquela instituição passaram a perseguir ideais compartilhados em função da unificação dos seus objetivos. Por mais de uma década o Instituto de Química, constituído pelos Departamentos de Química Orgânica, Química Geral e Inorgânica, Físico-Química e Bioquímica, prestou valiosos serviços à comunidade acadêmica, e à sociedade em geral, contribuindo principalmente na formação de professores para o ensino médio e superior.
Em 1973, através do Decreto 79.970, de 21 de março do mesmo ano, seguindo a institucionalização do Ciclo Básico, a UFC é departamentalizada e o Instituto de Química dá origem aos Departamentos de Química Orgânica e Inorgânica, Departamento de Química Analítica e Físico-Química e ao Departamento de Bioquímica. Ainda em 1973 foi criado pela Universidade o Curso de Especialização em Química Orgânica, destacando-se aqui a participação dos Professores José Wilson de Alencar, Paulo Auber Rouquairol, Maria Iracema Lacerda Machado, Carlos Humberto de Sousa Andrade, Raimundo Braz Filho e Francisco José de Abreu Matos como principais pesquisadores. Em decorrência da instalação do Curso de Especialização, devidamente reconhecido pela CAPES, realizou-se gradualmente a implementação e consolidação da infraestrutura indispensável às atividades de ensino e pesquisa stricto sensu.
Em 1975, retornando do seu curso de Ph.D. na Universidade de Indiana (EUA), o jovem e entusiasta Prof. Afrânio Aragão Craveiro foi o fermento capaz de catalizar o processo que finalizou com a criação, em 21 de fevereiro de 1976, do Curso de Mestrado em Química Orgânica, que seria reconhecido pelo Conselho Federal de Educação através do Parecer no. 1475/79 de 26 de dezembro de 1979.
Texto retirado do material disponibilizado pelos 25 anos da Pós-Graduação em Química Orgânica da UFC.