Estudo mostra que fibra de caju previne obesidade em animais
Data da publicação: 10 de setembro de 2019 Categoria: Colaborações, NotíciasA Embrapa divulgou resultados de estudo realizado com participação de pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Farmacologia. Leia abaixo a notícia:
Fibras do bagaço de caju tratadas em laboratório para retirada de açúcares e outros compostos de baixo peso molecular foram capazes de inibir a obesidade em ratos submetidos a dieta hipercalórica. Os animais receberam uma dieta rica em gorduras durante 15 semanas. Uma parte dos animais recebeu também a fibra processada em laboratório. O resultado animou os cientistas da Embrapa Agroindústria Tropical (CE) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) que realizaram a pesquisa.
A fibra controlou o peso, a gordura abdominal, o apetite e preveniu o aumento da glicemia, das taxas de insulina no sangue e da gordura no sangue (triglicerídeos). Preveniu também o processo inflamatório e reduziu a lesão hepática causada pela dieta hipercalórica.
Na obesidade, o organismo passa a apresentar resistência aos hormônios que atuam no controle da saciedade, fazendo com que o indivíduo sinta mais fome, explica a nutricionista Diana Valesca Carvalho, professora da UFC e uma das responsáveis pelo experimento. No estudo, apesar de os animais consumirem uma dieta hipercalórica, eles mantiveram normais os níveis de leptina e insulina e reduziram a grelina, o hormônio relacionado à fome, o que representou o controle da saciedade.
Utilizando a técnica da Ressonância Magnética Nuclear, os pesquisadores descobriram que havia ácidos graxos de cadeia curta no soro e nas fezes dos animais que receberam a fibra processada. A presença desses ácidos graxos está associada ao controle da saciedade e à promoção do crescimento da flora bacteriana benéfica, que auxiliam o controle do peso corporal. “Provavelmente todos esses efeitos que a fibra provocou na prevenção da obesidade dos animais sejam decorrentes da produção dos ácidos graxos de cadeia curta”, diz Diana Carvalho.
Ela esclarece que a presença desses ácidos significa que a fibra fermentou no intestino. O achado é relevante porque 80% da fibra do caju é insolúvel e normalmente os estudos científicos associam as fibras solúveis a esse tipo de fermentação. “Nossa perspectiva é avaliar, futuramente, os efeitos dessa fibra na microbiota intestinal”, anuncia. Conforme a professora, também deve ser avaliado nos próximos estudos o efeito do potencial dessa fibra para a prevenção da obesidade em humanos.
Espaço para as fibras de frutas
“Existem poucos estudos com fibras de frutas, principalmente como ingredientes. A esmagadora maioria do conhecimento é sobre fibra de cereais. É um universo todo a ser explorado”, explica o pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical Edy Brito. Ele coordena o Laboratório Multiusuário de Química de Produtos Naturais, onde foram realizados os testes químicos com o bagaço de caju.
Segundo Brito, a perspectiva é contribuir para o desenvolvimento de um novo ingrediente para a indústria alimentícia, a partir de uma matéria-prima regional com bom potencial funcional e nutricional.
Fibra tratada x integral
Na primeira fase da pesquisa os cientistas haviam avaliado o consumo do bagaço de caju integral, sem a retirada dos compostos de baixo peso molecular. Os resultados foram bem diferentes. Em animais submetidos a uma dieta normal, a fibra integral alterou o metabolismo dos lipídeos, aumentando colesterol e triglicerídeos.
Quando os compostos de baixo peso molecular foram excluídos e mantida a dieta com padrões normais de calorias, o efeito foi diferente, com redução da glicemia, da insulina e da grelina. O metabolismo dos lipídeos nos animais manteve-se inalterado. A partir desses resultados, os pesquisadores decidiram utilizar a fibra processada em animais submetidos à dieta hipercalórica.
Conforme a pesquisadora Diana Carvalho, a fibra integral não deve ter apresentado bons resultados por conta do alto teor de frutose, o açúcar das frutas. “A frutose está muito relacionada ao aumento da gordura abdominal. Observamos aumento da gordura abdominal no grupo que consumiu a fibra em sua forma integral”, diz.
Conforme a pesquisadora, a partir desses estudos, pode-se concluir que o bagaço de caju integral deve ser consumido com cautela. “Para que se tenha um efeito funcional na redução de peso, é necessário submeter a fibra a um tratamento”, frisa. Os estudos com animais contaram com a colaboração da professora Flávia Almeida Santos, do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da UFC.
Fonte: página da Embrapa-CE
Verônica Freire (MTb 01225/CE)
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