Para diagnosticar a COVID-19, UFC desenvolve teste genético mais rápido, prático e simples que o método de RT-qPCR
Data da publicação: 12 de junho de 2020 Categoria: ColaboraçõesQuando alguém apresenta sintomas da COVID-19, deve ser testado para confirmar ou não a doença. Atualmente, há dois tipos de testes para estabelecer tal diagnóstico. Um baseado na metodologia chamada de RT-qPCR que detecta fragmentos moleculares específicos do material genético do novo coronavírus (SARS-CoV-2), ou seja, o teste identifica uma espécie de CPF do vírus. O outro detecta o “rastro” do vírus, pois nota a presença de anticorpos, isto é, moléculas produzidas pelo corpo da pessoa após ser infectada, um tipo de “cicatriz” química.
Infelizmente, ambos os testes tem inconvenientes. O primeiro teste, o genético, requer longo tempo de execução para revelar o resultado. Com boa vontade, leva em torno de umas 8 horas para sair o resultado do exame. Na prática, os resultados só são revelados após vários dias, em virtude da alta demanda. Além disso, o teste genético só pode ser feito em laboratório especializado com equipamentos sofisticados. O segundo teste, o de anticorpos, é rápido, em minutos sai o resultado. Todavia, só dá positivo quando alguém já está infectado há vários dias, ou seja, esse teste é vão para a fase inicial da doença. E o pior, o resultado negativo pode mascarar a real condição de uma pessoa infectada, um risco para si mesmo e para com quem ela convive.
Pensando em detectar a presença do vírus na fase inicial da doença de forma rápida, simples e mais acessível, pesquisadores das Faculdades de Medicina (FAMED) da UFC e da USP em Ribeirão Preto-SP colaboraram para desenvolver uma técnica alternativa. O estudo molecular será realizado principalmente no INCT- Instituto de Biomedicina no Semiárido Brasileiro, vinculado à FAMED-UFC e contará com a parceria de pesquisadores da USP-Ribeirão Preto. As avaliações dos exames clínicos e das amostras biológicas serão realizadas com participação de pesquisadores do Hospital S. José de Doenças Infecciosas e do Laboratório Central, ambos vinculados à Secretaria de Saúde do Estado do Ceará.
A nova técnica rastreia a presença de fragmentos de material genético do vírus e, portanto, o resultado é específico para detectar o novo coronavírus. Ela difere do método de RT-qPCR tradicional pois, a técnica é rápida e em menos de 1 h fornece resultados confiáveis. Ao contrário da RT-qPCR, a nova técnica não necessita de vários ciclos alternados de temperatura, nem requer equipamento especial para tanto, o termociclador. Outra vantagem da técnica proposta é a fácil leitura do resultado, visual, a olho nu mesmo, em tubo de ensaio. A leitura pela tradicional RT-qPCR, precisa de software específico para tal.
A imagem ao lado mostra o primeiro teste realizado na UFC com a nova técnica. O teste foi conduzido pelo Prof. Alexandre Havt Bindá, responsável pelo estudo molecular. Note a coloração amarelada da amostra com fragmentos do vírus SARS-CoV-2, enquanto a amostra sem vírus tem cor rosa. O resultado detectado com a nova técnica foi confirmado pelo método tradicional de RT-qPCR, o que sugere ser a nova técnica tão confiável quanto a atual.
Se tudo der certo, será possível oferecer aos serviços de saúde pública do Estado do Ceará forma mais simples, rápida e acessível para os médicos saberem se um paciente está ou não infectado pelo novo coronavírus. Outra vantagem desta técnica será diagnosticar outras doenças endêmicas que acometem a população cearense. Além deste teste ser mais barato, traz a possibilidade de tratamento mais precoce sintonizado aos sinais e sintomas, aumentando a eficiência das medidas de isolamento social e freando a velocidade de transmissão do vírus na população. As primeiras evidências são, portanto, animadoras, mas outros testes são necessários para assegurar a especificidade e sensibilidade do método. Para as outras etapas para o desenvolvimento do novo teste buscaremos apoio de agências de fomento como Funcap e CNPq.
A equipe da UFC é liderada pelos Profs. Aldo Lima e Alexandre Havt e conta com a participação dos docentes Armenio Santos, Pedro Magalhães, Marcellus Souza, Miguel Souza e Roberto da Justa. Do Hospital S. José, participam o Dr. Érico Arruda e Dra. Melissa Medeiros. Da USP-Ribeirão Preto, participa o Prof. Eurico Arruda Neto, virologista especialista em coronavírus. No LACEN atuam as farmacêuticas Liana Perdigão, Vânia Viana e Karene Cavalvante.
Fonte:
Prof. Alexandre Havt Bindá
Professor do Departamento de Fisiologia e Farmacologia
Faculdade de Medicina
Universidade Federal do Ceará
Pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT)-Instituto de Biomedicina no Semiárido Brasileiro